Um dos primeiros bares de rock da cidade de Manaus foi o Espaço Aberto. Isto na segunda metade da década de 1980. Localizado num mini shopping center num bairro, até então nobre, da cidade, o local era pequeno, mas aberto com boa ventilação e espaço para circulação. Na época não tínhamos problemas com Internet, computadores pessoais, celulares, mídia digital e outros demônios que facilitam e dificultam nossa rotina de hoje. Como a AIDS ainda não estava difundida, não precisávamos usar preservativos. O movimento rock em Manaus era pequeno. Logo, todos se conheciam e compartilhavam as drogas, as bebidas, as fitas K7 e o sexo. As drogas eram de melhor qualidade e não tinham toda a arqueação que teem hoje.
O bar lotava e o clima era o de um micro festival rocker/junkie. Mais outros dois bares abriram vizinhos no mesmo shopping em afã do público grande, aumentando mais ainda a diversidade e a diversão. Os banheiros eram uma festa à parte. Estavam sempre com várias pessoas. Nas pias alguns usavam cocaína, nos vasos sanitários casais transavam e a fumaça de maconha e nicotina nublava o interior.
Após a sequência de mesas, havia um espaço livre com cerca de 5 metros de distância até um elevado baixo de concreto que servia de palco ao ar livre. Os shows ao vivo geralmente eram aos sábados, e quase sempre tocavam duas bandas na noite. “Torre Astral”, “Dix”, “Artânia”, “Estado De Coma” e “Enigma” eram alguns dos nomes que brilhavam como atrações que tocavam músicas próprias e covers em seus repertórios de gigantes como Iron Maiden, Deep Purple, Judas Priest, Black Sabbath, Whitesnake, dentre muitos outros.
De uma leve reformulação da banda Enigma, nasceu o grupo Flash. Se apresentava como power trio e tinha como destaque o ótimo baixista Beto Lee (provavelmente, o homônimo filho de Rita Lee ainda não tinha nascido) e o excelente guitarrista vocalista Beto Rock. Com agudos em falsetes perfeitos, Beto Rock nunca perdia o timbre de sua guitarra base e solo. A performance destes rapazes incendiava a platéia. Aproveitando o relativo sucesso que faziam, no ano de 1988 conseguiram gravar um álbum em vinil chamado “Vozes Do Inferno”. O disco é um EP de 12 polegadas com apenas 4 músicas. A sonoridade em si vagueia entre o hard rock e o rock nacional dos anos 80, sinceramente sem muito diferencial do que se fazia no momento. O destaque vai para a faixa “Quero Ser Eleito”. Um rockão stoneano com letra irônica e já preventiva ao que encontraríamos nas eleições diretas, que surgiriam em seguida. Como não houve grande aplicação de marketing e divulgação, a vendagem foi um fracasso. Era possível se encontrar os discos encalhados nos balcões das lojas e sempre acabavam no meio de promoções em queimas de estoque. Devido ao insucesso de vendas, o grupo se acabou. Os músicos sumiram. Beto Rock não mora mais na cidade e o nome Flash caiu no esquecimento. Hoje em dia os colecionadores de vinil trocam a tapas exemplares dessa raridade que é um grande registro para a história do rock de Manaus.
Como sou um dos poucos sortudos que possuem um exemplar dessa peça de museu, disponho-me para veicular a digitalização do trabalho, caso alguém se prontifique em colaborar com o equipamento. Interessados, façam contato.
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